Analytics

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Será o fim do Carnaval?

Ultimamente muitas coisas estão mudando. Tantas outras desaparecendo. Algumas poucas surgindo.

Isso na Política nacional se reflete em medidas de todos os tipos, reformas mais para alterar as aparências do que para mexer na estrutura.

Quais aparências?

Troca-se a aparência de um estado fraco e corrupto, por uma imagem de um estado que atua em todos os aspectos visando a otimização dos serviços prestados.

Qual estrutura?
A corrupção que sustenta o sistema político atual, que mantém sempre os mesmos nos cargos de poder. Isso ainda não deu sinais de mudança.

E o que essas mudanças e o Carnaval tem em comum um com o outro?

Bom... Tá virando moda cancelar o Carnaval para usar o dinheiro em saúde. 

Quer dizer, virou moda dizer que vai ser melhorado o sistema de saúde, utilizando um dinheiro que antes era "desperdiçado" numa festa de cultura popular. Afinal cultura popular não merece investimento mesmo. É coisa de pobre, favelado, funkeiro.

Parece que muita gente aprova isso e é uma medida que vai dar bastante (já tem dado) votos para os políticos que aderem a esta manobra.

Mas será que isso é certo? Será que é algo que realmente deveria ser feito?

Primeiro vamos ver quem são as pessoas que aprovam isso:

As pessoas que aprovam o cancelamento de uma festa tradicional que ocorre em todo o país, com o pretexto de conseguir mais dinheiro para a Saúde, são também as pessoas que tem algum desacordo de gosto pessoal em relação as músicas, tipos de festas e diversões oferecidas no Carnaval.
Logo se vê então que essas pessoas aprovariam qualquer coisa que pudesse cancelar o carnaval, qualquer medida que os ajudassem a exercer sua intolerância cultural. Isso, portanto, não me parece argumento de ordem social, mas simples desaprovação ao gosto alheio. E não é exagero dizer Intolerância Cultural, principalmente quando isso se transforma em censura ou proibição de manifestação popular.

Tá na hora de recolher a serpentina?
Arrisco a dizer, com um tom de generalização, que essas mesmas pessoas se revoltariam caso a festa ameaçada fosse o Natal (festa bem mais aceita, pelo caráter cristão, politicamente correto e burgues-consumista). Aliás, o Natal faz os cofres publicos gastarem dinheiro para celebrar uma festa religiosa em um estado Laico, mas como é de grande retorno financeiro para o setor econômico do País, ninguém chega a questionar com grande força a sua reaização e menos ainda se cogita acabar com essa grande epidemia de compras de fim-de-ano. [Ironia] Sem contar, é claro, que no Natal todo mundo usa pullover e casaquinhos de lã, por que neva demais e o frio é imenso aqui no Brasil durante essa época do ano. Nunca vi uma garota de shorts curto e decotes abusados durante a ceia. [/Ironia]

Então por que o Carnaval?
Por que no Carnaval os corpos ficam a mostra? Os prazeres afloram? As pessoas ficam bêbadas? Duvido muito. Caso assim fosse, seriamos um país Ébrio, com um nível muito menor de acidentes de trânsito resultantes de bebida, um país com uma moral muito mais forte em relação aos prazeres carnais, que consumiria muito menos pornografia nas novelas, revistas e internet.

Mas o Carnaval é, assim como o forró, o axé, o funk, as festas de rua, o teatro popular, as danças urbanas, uma manifestação cultural da classe mais atacada diariamente no Brasil: A periferia.
E então é fácil perceber como os políticos conseguem ver aqui mais uma chance de tirar vantagens políticas e econômicas.

Opa! Pera aí!, Como assim vantagens econômicas Allan? Ta viajando? Como alguém tira vantagem econômica cancelando o Carnaval? Não dá pra desviar dinheiro de uma festa que não acontece! - É o que você, leitor, deve estar pensando.

Realmente fica muito difícil mesmo desviar dinheiro de uma festa que não acontece, e se o dinheiro que iria ser investido em lazer e cultura é prometido para a saúde, então a fiscalização popular em cima desse dinheiro deve aumentar consideravelmente. Acontece que ninguém percebe que esse dinheiro que sai do Carnaval para a Saúde permite que o dinheiro destinado de fato à Saúde continue não chegando aonde deveria, por que, via de regra, ele já existe. Quer dizer, muito dinheiro fica no meio do caminho entre os cofres públicos e os hospitais, médicos, equipamentos... Muita cifra é desviada. Aí abre-se um buraco que deixa leitos vazios, corredores cheios e tantos outros problemas.

Também esquecemos de considerar que é melhor e mais fácil que esses sei lá quantos milhões perdidos continuem perdidos, enquanto o político ganha voto com uma medida de maior visibilidade, abrindo mão de uma pequena merreca carnavalesca, dando porrada na classe que já acostumou a apanhar. Afinal, o que dá mais lucro, o desvio das verbas públicas durante um ano inteiro ou um desvio durante quatro dias de Carnaval? (e seus preparativos).

Isso tudo sem contar que acabar com manifestações culturais que não não são baseadas em violência contra indefesos(como rodeios), pra não precisar investir de verdade em politicas que garantam a segurança e a estrutura necessária para uma festa divertida e alegre, poupa bastante trabalho. E que garantir cultura nunca foi prioridade de nenhum representante de estado, principalmente cultura popular.



Nenhum comentário:

Postar um comentário